
A ascensão de Bad Bunny ao topo das paradas internacionais não é apenas um fenômeno musical, mas um reflexo do poder da cultura pop latina no mundo. Ao incorporar ritmos como salsa e plena em seu trabalho, o artista porto-riquenho não apenas resgata suas raízes, mas também redefine o mainstream global, colocando a América Latina em um novo patamar de influência. Esse movimento cultural pode ter um impacto profundo no turismo, especialmente ao fortalecer a identidade regional e atrair visitantes em busca de experiências autênticas.
Bad Bunny e a Ressignificação Cultural no Turismo
Em sua música “Debí Tomar Más Fotos“, Bad Bunny mergulha em um turismo de nostalgia, trazendo memórias de infância e valorizando sua herança familiar e cultural. Esse resgate afetivo se conecta a uma tendência crescente no turismo: a busca por experiências autênticas e emocionais, onde os viajantes não querem apenas conhecer um lugar, mas reviver histórias, tradições e memórias coletivas.
Além disso, a letra denuncia a gentrificação e a perda de identidade local, especialmente com versos como:
“Quieren quitarme el río y también la playa
Quieren el barrio mío y que abuelita se vaya
Que no quiero que hagan contigo lo que le pasó a Hawái”
(Ou na tradução: “Querem me levar o rio, a praia, o bairro, a minha avó. Não quero que façam com você (Porto Rico) o que fizeram com o Havaí.”)
Aqui, Bad Bunny fala sobre o impacto da exploração turística descontrolada, onde os locais são deslocados para dar espaço a um turismo que não respeita as raízes da comunidade. Esse alerta é essencial para a América Latina, onde diversos destinos vivem esse dilema entre o crescimento do turismo e a preservação cultural e social.
Brasil, Anitta e o Soft Power Latino
O impacto da cultura pop na economia e no turismo não é exclusivo de Porto Rico. O Brasil também surfa essa onda de soft power latino com artistas como Anitta, que vem ganhando destaque global e representando a cultura brasileira em eventos internacionais, como o Met Gala e o VMA. A presença de figuras como ela reforça a identidade brasileira no cenário mundial, impulsionando o turismo e despertando o interesse global pelo país.
Anitta, assim como Bad Bunny, não é apenas uma cantora, mas uma embaixadora cultural. Sua presença em grandes eventos internacionais mostra como a música e a cultura podem servir como um canal de conexão com o mundo, atraindo visitantes interessados em vivenciar o que antes só viam nas telas.
O Brasil no Cinema: “Ainda Estou Aqui” e o Turismo da Memória
Essa força da cultura na formação do imaginário global não se limita à música. O cinema também desempenha um papel crucial no turismo e na percepção internacional de um país. O filme “Ainda Estou Aqui”, lançado recentemente e com 3 indicações ao Oscar, mostra um Brasil marcado por um período histórico triste, mas ao mesmo tempo repleto de belezas naturais e de um espírito resiliente.
Filmado no Rio de Janeiro, o longa apresenta paisagens icônicas da cidade e reforça o turismo da memória, aquele que busca conectar os visitantes não apenas com os lugares, mas com as histórias e emoções que eles carregam. Assim como Bad Bunny revisita o passado para fortalecer sua identidade cultural, “Ainda Estou Aqui” faz o mesmo com a história brasileira, mostrando que o turismo pode ser um meio de resgatar narrativas esquecidas e valorizar a cultura local.
A Cultura Popular como Soft Power e Consciência Coletiva
A música, o cinema e as artes têm um papel fundamental no chamado soft power, ou seja, na capacidade de um país influenciar globalmente por meio de sua cultura. Bad Bunny se tornou uma voz de resistência e preservação cultural para Porto Rico, enquanto o Brasil também tem potencial para usar sua cultura como ferramenta de empoderamento e transformação no turismo.
Ao reforçar essa identidade e valorizar suas raízes, a América Latina pode construir um turismo mais sustentável, que celebre as histórias, os ritmos e os espaços que fazem parte de sua essência.
Porque, no fim das contas, como o próprio Bad Bunny canta:
“Ahora todos quieren ser latino’ Pero les falta sazón.”
(“Agora todos querem ser latinos, mas falta tempero.”)
E é exatamente esse tempero, essa autenticidade e essa riqueza cultural que podem colocar a América Latina no topo do turismo global.
Fernanda Coutinho é turismóloga, mestre em Turismo e Experiência em Ambientes Multiculturais e gerente de contas no Bureau Mundo.